OBSERVATÓRIO - TV's locais tiram a ocupação da pauta
Rosaly de Seixas Brito (FACOM/PPGCOM/UFPA)
Manuela Corral (FACOM/PPGCOM/UFPA)
No último dia 6 de dezembro, quando a ocupação da UFPA completou um mês, uma constatação se impôs no que tange à cobertura televisiva do movimento, reverberando uma tendência que já se desenhava desde o seu início: as duas emissoras comerciais de TV de maior audiência em nível local – TV Liberal e TV Record Belém* – tiraram gradativamente a ocupação da pauta. Em ambas, com pequena variação, o movimento só foi pautado na semana que se seguiu à sua deflagração, conforme indica o boletim anterior publicado por este Observatório.
Já na TV Cultura, o silêncio sobre o movimento assumiu características distintas em relação às redes comerciais. A emissora pública ignorou por completo a ocupação da UFPA nos seus primeiros dez dias e só o pautou, a partir daí, de maneira absolutamente episódica, sem qualquer continuidade na cobertura.
No primeiro boletim, publicado no dia 25/11, foi analisada a cobertura das três emissoras de TV no período de 07 a 23/11. Neste segundo boletim, a amostra analisada recobre o período que vai de 23/11 a 06/12/2016, totalizando um mês exato de ocupação. Pela extensão do tempo, já é possível se ter um balanço, ainda que provisório, da postura editorial das redes de TV locais em relação ao movimento. Em uma palavra, ela pode se traduzir, grosso modo, por silenciamento, embora com nuances diferenciadas.
* Os telejornais dessas duas redes comerciais foram escolhidos como corpus do monitoramento pelo fato de terem os maiores índices de audiência em nível local. De outro lado, consideramos importante, pela possibilidade de estabelecer um contraponto entre lógicas distintas de cobertura, que os telejornais da TV Cultura, única emissora pública do Estado, também integrassem o corpus da pesquisa.
Liberal e Record: dois pesos, duas medidas
No caso das emissoras comerciais, o dado que mais salta aos olhos nessa segunda quinzena do movimento é que ambas ignoraram sua existência e não lhe fizeram qualquer menção. Nesse período, do ponto de vista jornalístico, aconteceu nada menos que a votação em primeiro turno, no dia 29/11, pelo Senado da PEC 55/241, que congela o teto dos gastos públicos por 20 anos. A derrota da PEC é uma das principais bandeiras do movimento de ocupação que toma conta de universidades em todo o país e de todas as universidades públicas paraenses. Ainda assim, o fato não mereceu sequer uma menção no telejornalismo das TVs Liberal e Record Belém, contrariando os critérios mais básicos de noticiabilidade.
Contrastando com esse silêncio, ambas noticiaram com destaque, nas edições da segunda-feira 05/12, a manifestação ocorrida no dia 04/12 em todo o país, inclusive em Belém, contra o pacote anticorrupção aprovado pela Câmara Federal, que propõe mudanças do projeto inicial proposto pelo Ministério Público Federal. Ao se colocar na balança os dois fatos, fica evidente que o critério editorial privilegiou de maneira ostensiva a manifestação que unificava os segmentos sociais mais conservadores do país, em detrimento do movimento das universidades e escolas contra a aprovação da PEC 55/241.
Note-se que até mesmo na cobertura das grandes redes nacionais de TV, a votação da emenda constitucional mereceu lugar absolutamente secundário no noticiário, em virtude de que, no dia de votação em primeiro turno da PEC, o país foi surpreendido pelas notícias do trágico acidente de avião que vitimou a delegação e parte da equipe técnica do time de futebol Chapecoense. Contudo, como a votação dessa matéria constitucional de grande repercussão na vida do país não poderia ser simplesmente ignorada, as principais redes de TV brasileiras a noticiaram, dando maior ênfase, porém, aos confrontos havidos entre a polícia e os manifestantes em Brasília, criminalizando a ação destes.
TV Cultura: cobertura episódica
Enquanto isso, na segunda quinzena do movimento de ocupação, a TV Cultura manteve a tendência de muito pouco noticiá-lo, registrada desde o início. Foram só duas matérias veiculadas na quinzena, uma no dia 24/11, como parte do quadro Sintonize UFPA, realizado em parceria entre a emissora e o projeto “Academia Amazônia”, de produção audiovisual, da Faculdade de Comunicação da UFPA. A outra matéria, pautada espontaneamente pela emissora, foi veiculada no dia da votação da PEC 55/241 pelo Senado (29/11).
A matéria do Sintonize, veiculada no dia 24/11, foi dedicada à marcha para Brasília, na qual estudantes, professores e técnicos da UFPA seguiram em caravana até a capital federal para protestar contra a PEC.
A matéria feita pela TV Cultura do Pará no dia 29/11 focalizou a maneira como se estrutura internamente a ocupação na UFPA, em que os estudantes se apoiam, estudam, têm aulas públicas e recebem doações que dão sustentação ao movimento. A matéria citou que todas as universidades públicas do Estado estão ocupadas e ressaltou que estudantes da UFPA e da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) tinham ido a Brasília para protestar contra a PEC 55. Apesar do conteúdo da matéria ser positivo em relação ao movimento, com chamada da notícia (cabeça) pela apresentadora descrevendo em que consiste a proposta de emenda constitucional, esta foi apenas a segunda matéria pautada pela emissora no período de um mês.
Ao todo, em 30 dias de ocupação, a TV Cultura veiculou quatro matérias sobre o movimento de ocupação, sendo somente duas de sua própria iniciativa e duas do projeto Sintonize, o que revela uma cobertura episódica, sem qualquer continuidade. Trata-se de um critério de seleção de pautas que desmerece a importância social do movimento – considerando não só os graves efeitos das medidas previstas na PEC 55/241 para a educação e saúde, entre outros setores estratégicos, como também o grande número de pessoas afetadas pela paralisação das atividades da UFPA. Certamente, de uma emissora pública, era de se esperar maior densidade na cobertura e compromisso com o interesse público, seriamente violado pelas medidas do governo Temer, que não tem poupado esforços, diga-se, no desmonte do sistema nacional de comunicação pública.
Já na TV Cultura, o silêncio sobre o movimento assumiu características distintas em relação às redes comerciais. A emissora pública ignorou por completo a ocupação da UFPA nos seus primeiros dez dias e só o pautou, a partir daí, de maneira absolutamente episódica, sem qualquer continuidade na cobertura.
No primeiro boletim, publicado no dia 25/11, foi analisada a cobertura das três emissoras de TV no período de 07 a 23/11. Neste segundo boletim, a amostra analisada recobre o período que vai de 23/11 a 06/12/2016, totalizando um mês exato de ocupação. Pela extensão do tempo, já é possível se ter um balanço, ainda que provisório, da postura editorial das redes de TV locais em relação ao movimento. Em uma palavra, ela pode se traduzir, grosso modo, por silenciamento, embora com nuances diferenciadas.
* Os telejornais dessas duas redes comerciais foram escolhidos como corpus do monitoramento pelo fato de terem os maiores índices de audiência em nível local. De outro lado, consideramos importante, pela possibilidade de estabelecer um contraponto entre lógicas distintas de cobertura, que os telejornais da TV Cultura, única emissora pública do Estado, também integrassem o corpus da pesquisa.
Liberal e Record: dois pesos, duas medidas
No caso das emissoras comerciais, o dado que mais salta aos olhos nessa segunda quinzena do movimento é que ambas ignoraram sua existência e não lhe fizeram qualquer menção. Nesse período, do ponto de vista jornalístico, aconteceu nada menos que a votação em primeiro turno, no dia 29/11, pelo Senado da PEC 55/241, que congela o teto dos gastos públicos por 20 anos. A derrota da PEC é uma das principais bandeiras do movimento de ocupação que toma conta de universidades em todo o país e de todas as universidades públicas paraenses. Ainda assim, o fato não mereceu sequer uma menção no telejornalismo das TVs Liberal e Record Belém, contrariando os critérios mais básicos de noticiabilidade.
Contrastando com esse silêncio, ambas noticiaram com destaque, nas edições da segunda-feira 05/12, a manifestação ocorrida no dia 04/12 em todo o país, inclusive em Belém, contra o pacote anticorrupção aprovado pela Câmara Federal, que propõe mudanças do projeto inicial proposto pelo Ministério Público Federal. Ao se colocar na balança os dois fatos, fica evidente que o critério editorial privilegiou de maneira ostensiva a manifestação que unificava os segmentos sociais mais conservadores do país, em detrimento do movimento das universidades e escolas contra a aprovação da PEC 55/241.
Note-se que até mesmo na cobertura das grandes redes nacionais de TV, a votação da emenda constitucional mereceu lugar absolutamente secundário no noticiário, em virtude de que, no dia de votação em primeiro turno da PEC, o país foi surpreendido pelas notícias do trágico acidente de avião que vitimou a delegação e parte da equipe técnica do time de futebol Chapecoense. Contudo, como a votação dessa matéria constitucional de grande repercussão na vida do país não poderia ser simplesmente ignorada, as principais redes de TV brasileiras a noticiaram, dando maior ênfase, porém, aos confrontos havidos entre a polícia e os manifestantes em Brasília, criminalizando a ação destes.
TV Cultura: cobertura episódica
Enquanto isso, na segunda quinzena do movimento de ocupação, a TV Cultura manteve a tendência de muito pouco noticiá-lo, registrada desde o início. Foram só duas matérias veiculadas na quinzena, uma no dia 24/11, como parte do quadro Sintonize UFPA, realizado em parceria entre a emissora e o projeto “Academia Amazônia”, de produção audiovisual, da Faculdade de Comunicação da UFPA. A outra matéria, pautada espontaneamente pela emissora, foi veiculada no dia da votação da PEC 55/241 pelo Senado (29/11).
A matéria do Sintonize, veiculada no dia 24/11, foi dedicada à marcha para Brasília, na qual estudantes, professores e técnicos da UFPA seguiram em caravana até a capital federal para protestar contra a PEC.
A matéria feita pela TV Cultura do Pará no dia 29/11 focalizou a maneira como se estrutura internamente a ocupação na UFPA, em que os estudantes se apoiam, estudam, têm aulas públicas e recebem doações que dão sustentação ao movimento. A matéria citou que todas as universidades públicas do Estado estão ocupadas e ressaltou que estudantes da UFPA e da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) tinham ido a Brasília para protestar contra a PEC 55. Apesar do conteúdo da matéria ser positivo em relação ao movimento, com chamada da notícia (cabeça) pela apresentadora descrevendo em que consiste a proposta de emenda constitucional, esta foi apenas a segunda matéria pautada pela emissora no período de um mês.
Ao todo, em 30 dias de ocupação, a TV Cultura veiculou quatro matérias sobre o movimento de ocupação, sendo somente duas de sua própria iniciativa e duas do projeto Sintonize, o que revela uma cobertura episódica, sem qualquer continuidade. Trata-se de um critério de seleção de pautas que desmerece a importância social do movimento – considerando não só os graves efeitos das medidas previstas na PEC 55/241 para a educação e saúde, entre outros setores estratégicos, como também o grande número de pessoas afetadas pela paralisação das atividades da UFPA. Certamente, de uma emissora pública, era de se esperar maior densidade na cobertura e compromisso com o interesse público, seriamente violado pelas medidas do governo Temer, que não tem poupado esforços, diga-se, no desmonte do sistema nacional de comunicação pública.
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