OBSERVATÓRIO - Internet Ocupada: na contramão da mídia tradicional

Aline Freitas (PPGCOM/UFPA)
Manuela Corral (FACOM/PPGCOM/UFPA)
Rosaly Brito (FACOM/PPGCOM/UFPA)
Agradecimento especial a José Calasanz Piedade de Souza Junior

Ao longo do primeiro mês de ocupação na UFPA foram analisados os comportamentos nas redes sociais da internet através das hashtags utilizadas no período que antecedeu e aquele que se seguiu à deflagração do movimento. O levantamento realizado faz parte de um esforço do Observatório de melhor compreender o exercício de uma cidadania mais ativa no ambiente das redes, particularmente significativo neste momento vivido no país, bem como seus efeitos nos meios de comunicação. Trata-se de entender como os formatos de comunicação digital possibilitam o protagonismo dos sujeitos, diferentemente do papel que lhes foi reservado na relação com as mídias tradicionais.

Para tanto, foi utilizada a ferramenta SCUP, que permitiu observar como o público expressa sua opinião sobre a ocupação na UFPA e os temas que a tangenciaram como a PEC 55/241 e o governo Temer. Também são focalizados na análise o estado emocional e o humor dos atores das postagens. Os dados analisados consideraram as seguintes redes: Twitter, Facebook e Instagram, buscando compreender de que forma a ocupação na UFPA foi citada, compartilhada e percebida pelos sujeitos destas redes. Na tentativa de entender o que pensava o público envolvido direta e/ou indiretamente na ocupação analisamos as hashtags #ocupaUFPA #UFPALivre e #DesocupaUFPA. 

No total, foram analisadas 429 menções de hashtags  no período de 24/10 a 24/11 e 547 hashtags no período de 05/11 a 05/12. Optou-se por fazer uma cobertura dos dias que antecederam a efetivação da ocupação na UFPA, considerando a importância do processo que culminou no movimento. As menções foram classificadas em positivas, quando em apoio à ocupação, negativas, quando contra à ocupação, e neutras, quando se trataram de cantadas, piadas ou assuntos que não envolviam diretamente a ocupação da UFPA.

É inquestionável, nos dados analisados, a representatividade e importância do Twitter, seguido pelo Instagram, como as redes sociais que contêm o maior número de menções sobre a ocupação na UFPA. O Twitter desponta como a principal plataforma informativa digital, motivada especialmente pelo seu caráter dinâmico e rápido de informação, entretanto a rede não permite mais que 140 caracteres em suas publicações, o que pode levar a uma superficialidade dos debates e discussões caso não seja utilizado o apoio de outras fontes de informação. Destaca-se ainda que o Instagram apresentou aumento considerável na sua utilização ao longo do período analisado, saltando de 40 para 117 as menções das hashtags em estudo. Por meio do monitoramento constata-se também que a maioria das publicações do movimento UFPA Livre, contrário à ocupação, foi feita no Instagram.

Redes com mais menções para o período de 24/10 a 24/11

Legenda:
Cor verde: Menções positivas à ocupação
Cor amarela: Menções neutras à ocupação
Cor vermelha: Menções negativas à ocupação


Redes com mais menções para o período de 05/11 a 05/12
Legenda:
Cor verde: Menções positivas à ocupação
Cor amarela: Menções neutras à ocupação
Cor vermelha: Menções negativas à ocupação

Ao contrário do que aconteceu no mesmo período na grande mídia (TV, jornal impresso e portais online, contemplados também nos relatórios do Observatório de Mídia e disponíveis neste blog), quando a ocupação na UFPA foi invisibilizada ou mencionada de forma negativa, nas redes sociais da internet, durante todo o período de análise da pesquisa, as percepções positivas em relação à ocupação sempre estiveram em maior número, sendo pequena a representatividade das menções negativas. Conforme pode ser percebido a seguir:

Representação de sentimento das menções para o período de 24/10 a 24/11


Representação de sentimento das menções para o período de 05/11 a 05/12


O número das menções teve seu pico em 07/11, dia do início da ocupação, passa a cair em 09/11, voltando a crescer em 12/11. Uma das hipóteses que justifica esse comportamento pode ser a consolidação das atividades (palestras, mesas de debate, plenárias, aulas públicas, oficinas e cursos) implementadas pela ocupação. No dia 29/11, data da votação da PEC 55/241 em primeiro turno no Senado, um fato chama a atenção: apesar da maior parte dos senadores ter votado em favor da PEC, nas redes sociais houve uma efervescência em apoio à ocupação e contra a proposta de emenda constitucional. Também é válido ressaltar que, a partir do dia 18/11, por 17 dias até o final do período analisado, não há mais menções negativas sobre a ocupação na UFPA.

Evolução dos sentimentos para o período de 05/11 a 05/12


Nas análises dos dados coletados é possível perceber a flagrante dissonância entre as opiniões postadas nas redes sociais sobre o movimento e o conteúdo veiculado nas mídias tradicionais, os quais criminalizam, criticam e silenciam sobre a ocupação e, em grande medida, também sobre a PEC 55/241. Enquanto isso, os debates na rede, por meio das hashtags mais utilizadas no período estudado, demonstram a clareza de que a emenda constitucional é uma das principais motivações da ocupação na UFPA. 

Representatividade das hashtags para o período de 24/10 a 24/11
Legenda:
Cor verde: Menções positivas à ocupação
Cor amarela: Menções neutras à ocupação
Cor vermelha: Menções negativas à ocupação


Representatividade das hashtags para o período de 05/11 a 05/12


O compartilhamento das hashtags também destacou as principais questões mencionadas, tanto sobre quem apoiou a ocupação nas suas postagens (menções positivas) quanto quem as questionou (menções negativas). Nos dois casos, as representações de maior destaque recaíram sobre as lideranças de cada um dos grupos (a favor – Ocupa UFPA – e contra a ocupação – UFPA Livre). Nas postagens de apoio à ocupação, os termos positivos diziam respeito a uma visão de luta mais ampla e coletiva (“ocupa tudo” e “ufpa”, considerando que outros campi da Universidade passaram a ser ocupados), enquanto que os termos mais utilizados nas postagens negativas diziam respeito a questões mais locais e específicas dos cursos que questionaram a ocupação (“engenharia”, “estudante”).

Termos mais positivos das postagens para o período de 05/11 a 05/12


Termos mais negativos para o período de 05/11 a 05/12


A análise das redes sociais da internet nos permite perceber quão contraditório é o comportamento da mídia tradicional em relação ao conteúdo publicado e expresso pelos sujeitos nos canais digitais, uma vez que, se o movimento da ocupação é silenciado e/ou criminalizado nos veículos de TV, jornais e mesmo portais de notícias online, este conteúdo não reflete o caráter positivo das postagens nas redes sociais, muito menos a relação que a ocupação estabelece no combate à aprovação da PEC 55/241.
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Um comentário

  1. Excelente trabalho realizado pelos colegas. Acho que experiências como essas devem ser mais divulgads como por exemplo o e-mail marketing. Abraços, a luta continua.

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