Ocupa UFPA realiza encontro feminista

O protagonismo feminino tem sido uma marca das ocupações de escolas e universidades em todo o país. Na UFPA, as mulheres estão à frente do movimento desde o início das articulações e tiveram papel fundamental durante a assembleia geral que decidiu pela ocupação. Agora, com uma semana de Ocupa UFPA, elas se mantêm em papéis-chave na mobilização.

No último sábado (12), cerca de 80 mulheres participaram do Encontro Feminista da Região Metropolitana de Belém, que aconteceu no auditório da reitoria da UFPA. O evento, que já havia sido agendado antes da ocupação em outro local, foi transferido para o espaço para compor a programação de  luta contra a PEC 55. A mestranda em Serviço Social Giselle Freitas, uma das alunas do Ocupa UFPA, explica a relação dessa luta com as pautas feministas:

“A PEC, se aprovada, pretende congelar por 20 anos os investimentos em áreas como saúde, educação e assistência social. A gente sabe que essas são três áreas de predominância de mulheres. Quem mais acessa o SUS, segundo pesquisas, são mulheres. As categorias da educação são predominantemente de mulheres. E na assistência social, a nossa demanda é majoritariamente de mulheres. Por isso a gente diz que a PEC vai atingir principalmente e com mais dureza as mulheres”.


O encontro feminista foi, então, permeado por essa perspectiva. Uma das discussões girou em torno da organização de um ato alusivo ao Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher, em 25 de novembro, que pretende unificar com uma manifestação nacional das centrais sindicais contra o governo Temer. A professora de Psicologia Eunice Guedes, que esteve na reunião e apoia o movimento Ocupa, fala sobre a importância de ir às ruas nessa data:

“As mulheres sempre vão às ruas no 25 de novembro. E esse 25 é mais fundamental ainda, porque esse 25 está pautado pelos direitos das mulheres e pelos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, que estão sendo atingidos em vários níveis, principalmente com essa PEC da morte, a PEC do fim do mundo”.

Outra pauta discutida durante o encontro foi o machismo dentro da própria ocupação, com homens tentando silenciar mulheres nas assembleias ou mesmo casos de assédio, sobretudo à noite. A mestranda de Psicologia Flávia Câmara, outra aluna do movimento Ocupa, conta o que foi pensado para combater a situação:

“A proposta é que nessa semana seja realizada uma roda de conversa na qual a gente possa dialogar, na qual nós mulheres possamos falar essas situações pros homens que estão na ocupação, pra que a gente possa se ouvir e que eles possam entrar num processo de desconstrução. A gente espera que essa desconstrução aconteça, porque não é justo continuarmos nesses lugares de submissão, mas ao mesmo tempo sustentando esse movimento, pois somos maioria, estamos nas grandes comissões, tocando de fato a ocupação. Então eles devem respeitar a nossa autonomia, a nossa voz e a nossa existência”.

Além da roda de conversa, outra estratégia pensada foi a formação de grupos de segurança específicos de e para mulheres, para, por exemplo, acompanharem umas às outras para ir ao banheiro ou garantir que homens não adentrem o espaço exclusivo feminino da ocupação. 

E, falando em espaço exclusivo, outra pauta debatida foi uma antiga demanda das universitárias: a criação de uma creche na UFPA, onde acadêmicas, servidoras e moradoras do entorno da universidade possam deixar seus filhos para realizar suas atividades. A ideia das mulheres da ocupação é fortalecer essa cobrança e já iniciar, por conta própria, a adaptação de um espaço para crianças em um dos blocos do campus básico. Giselle Freitas explica a proposta:

“A gente quer unir essa luta geral contra a PEC com as nossas questões específicas. Assim, a creche é uma das principais bandeiras de luta do Ocupa. Pra mediar isso, como estamos num momento de ocupação, nós pensamos em pegar uma sala de aula, equipá-la e ter uma equipe de profissionais voluntários que saibam trabalhar com crianças, pra gente já construir uma creche com uma infraestrutura mínima”.

Uma nova reunião de mulheres está agendada para o próximo sábado, dia 19, às 15h, novamente no auditório da reitoria, para acertar os últimos detalhes do ato de 25 de novembro.



Texto e foto: Ádria Azevedo
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