OBSERVATÓRIO - Entre o jornalismo e o ativismo: o olhar de quem narra a própria luta

Elaide Martins (FACOM/PPGCOM/UFPA)
Roberta Pureza (FACOM/UFPA)


Uma abordagem colaborativa e ativista, portanto parcial, cuja abrangência é ampla, de norte ao sul do país. A cobertura noticiosa do coletivo Mídia Ninja, em sua fanpage, sobre as ocupações de universidades e escolas públicas, indica a presença de colaboradores em vários pontos do país e deixa clara sua postura favorável às manifestações contra a PEC 241/55, conhecida como a PEC do Teto dos Gastos e/ou PEC da Morte. A perspectiva da cobertura é a de quem está vivenciando os fatos, militando pela causa. Uma visão que nos leva a conhecer melhor o cotidiano e o lado humano de quem participa das manifestações, suas dificuldades, lutas, sonhos e atividades; uma perspectiva quase nunca narrada pela grande mídia que, ao contrário, costuma enquadrar as ações do movimento como vandalismo, procurando criminalizá-lo.

Do título ao texto, do vídeo à fotografia, o posicionamento do grupo Mídia Ninja foi facilmente identificado nos conteúdos publicados de 7 a 16 de novembro e de 22 a 27 de novembro, analisados neste monitoramento. Ao todo, contabilizamos 565 postagens na fanpage do Mídia Ninja, das quais cerca de 50 foram analisadas. Ao contrário de muitos monitoramentos em cibermeios, esta pesquisa não parte da busca por palavras-chave, mas de um levantamento quantitativo e qualitativo de todas as publicações feitas nesse recorte temporal. Após a somatória dos posts de cada dia, adotamos primeiramente o eixo temático como critério qualitativo para selecionar as postagens referentes às ocupações, com ênfase no âmbito local. Em seguida, usamos o critério quantitativo para identificar os posts com maior engajamento dos usuários, tendo como ação definidora o ato de curtir. Foram selecionadas as três postagens mais curtidas de cada dia, observando-se, ainda, seus comentários e compartilhamentos.

De uma forma geral, observamos que os textos são adjetivados, indicando, claramente, sua parcialidade. Também adotam chavões, slogans e até palavras de ordem, revelando a natureza militante do coletivo, a exemplo do post “Santa Maria em paralisação por nenhum direito a menos”. Essa percepção é reforçada com o título “Estudantes da Universidade Federal e do Instituto Federal de Santa Maria foram às ruas protestar contra PEC 55 e os demais retrocessos impostos por Michel Temer”, que critica e qualifica o atual governo, atribuindo-lhe os sentidos de “retrocesso” e “imposição”.

As imagens representam um elemento constitutivo das narrativas em todo o material analisado. Seja em forma de vídeos, fotografias ou galerias aliadas aos textos, elas estão presentes na maioria dos posts. O conteúdo condiz com o posicionamento político e ativista do coletivo, claramente evidenciado nas publicações: em defesa das ocupações e contrário às medidas do governo, à violência e ações de desocupação, reforçando a perspectiva de quem está não apenas cobrindo, mas também vivenciando os fatos.


“Nós sabemos o porquê de estarmos aqui, ele que não sabe o que é voto”

Da “caminhada de estudantes goianos contra as medidas governamentais” aos problemas vividos nas ocupações, como os “ataques fascistas de grupos oponentes” na UFRN; a rotina no Campus de Areia-UFPB, suas formas de se organizar, programar, realizar aulas, assembleias, limpar e cozinhar e experimentar a vida coletiva; ou a violência de que foram alvo estudantes da Famecos/PUC-RS por parte dos seguranças, “que os agrediram com cassetetes, socos e empurrões”. O Mídia Ninja procura mostrar as ocupações como um movimento de resistência às políticas do atual governo brasileiro. Em seu dia a dia, vem combatendo o congelamento nos investimentos na saúde e educação determinado pela PEC 241/55 e a reforma do Ensino Médio estabelecida pela PEC 746 e pelo projeto Escola Sem Partido.

Durante o período monitorado, a cobertura feita pelo coletivo mostrou atividades de ocupação em diversas instituições de ensino, como o IFPA, UFPA, UEPA, UFRA, UFCA, UFSM, IFSC, UFPB, UFRN, UFES-Alegre, UFABC, UFV, UFMG, UFTM, UnB, IFSP-São Roque, PUC-MG, Famecos, Unisinos, além das manifestações em Belo Horizonte, Brasília, São Paulo, Belém, Castanhal-PA, Capitão Enéas-MG, dentre outras. Essa cobertura, de significativa abrangência geográfica, é possibilitada por colaboradores e ativistas que procuram retratar um movimento articulado com ações simultâneas em todo o país. Apontam, ainda, para o crescimento das adesões, com títulos do tipo: “Mais um espaço da PUC/RS é ocupado!”, referindo-se ao pavilhão dos cursos “de História, Filosofia, Ciências Sociais, Teologia e Geografia” e destacando a ausência de repressão ou violência; ou com a notícia reproduzida da revista Fórum “Número de universidades ocupadas contra a PEC 55 já chega a 204”, destacando que o movimento chegou a 23 estados ainda na primeira quinzena de novembro.

Além disso, as postagens imprimem grandeza e força às ocupações, a exemplo das notícias: “A UNE - União Nacional dos Estudantes está em peso na UnB durante os próximos dois dias” para planejamento de força-tarefa contra a PEC; “Em Belém, mais de cinco mil pessoas ocuparam as ruas contra as reformas governamentais”; e “Estudantes em massa durante assembleia na Universidade Federal de Santa Maria”. Nesta última, informa que a assembleia foi transferida de um auditório para “o Largo do Planetário, mas ambos foram insuficientes”. Esta publicação recebeu mais de 2.400 curtidas e 821 compartilhamentos.

O coletivo retrata, ainda, a diversidade do movimento, como no post “Estudantes do INSIKIRAN dançam 'Parixara' durante a ocupação realizada nas universidades públicas contra a PEC 55”, como também os aspectos emotivos, ao mostrar o vídeo em que a estudante secundarista Manu Schonhofen fez um “discurso emocionante na audiência pública em defesa dos IFs na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul”. Deste discurso, destaca um trecho crítico e opinativo, reforçando sua postura contrária ao governo Temer: “Contamos ainda com um presidente que, além de golpista, desmoraliza a juventude e diz que ela nem sabe porque está lutando. Nós sabemos o porquê de estarmos aqui, ele que não sabe o que é voto”. Este vídeo recebeu 6,8 mil curtidas, 1.300 reações ‘Amei’ e 7,3 mil compartilhamentos.


Manu Schonhofen, estudante de 15 anos do IFSul Pelotas, representando a Primavera Secundarista.
Fonte: Mídia Ninja via Ocupa Federal FM (14.11.2016)


“E o silêncio da mídia pró-golpe continua...”

Em relação aos comentários, observamos que grande parte do público da fanpage se mostra favorável às ocupações, mas sempre houve certa polarização, especialmente no início do movimento, quando grupos que apoiam o governo e reprovam as formas de protesto criticam o movimento e o próprio coletivo. Por outro lado, os favoráveis às ocupações reprovam o governo e a grande mídia, a exemplo dos comentários: “E o silêncio da mídia pró-golpe continua...” e “Assim como em tantas cidades do país, a esperança de vencer o autoritarismo cínico invadiu ruas e praças, mas a imprensa, de novo, não ‘viu’ ”. Convém ressaltar que, inicialmente, a polarização com o movimento ‘Desocupa’ é muito nítida nos comentários, medindo forças sobre os direitos de greve e de ter aulas. No entanto, com o avanço das ocupações e manifestações, a polarização parece diminuir e o apoio ao movimento, aumentar.

O fluxo de postagens também aumenta ou diminui conforme a agenda do movimento. Em 11 de novembro, Dia Nacional de Paralisações contra a PEC 55, por exemplo, foram registradas cerca de 140 publicações na fanpage do Mídia Ninja. Dentre elas, uma sobre o atropelamento de um estudante de psicologia da UFPA durante um bloqueio na avenida Perimetral, em Belém, classificado como “crime de ódio”.  Reproduzido da página do Levante Popular da Juventude, este post expressa opinião sem sequer ouvir o acusado. Ao reproduzir o texto sem qualquer acréscimo de informações, o Mídia Ninja exclui a antiga prática jornalística de ‘ouvir o outro lado’, adotando uma abordagem unilateral, de versão única, e reforçando um modelo adotado em outros posts.

Ainda nesse mesmo dia, algumas postagens reafirmam o apoio de outras categorias ao movimento para unificar a luta, como a publicação sobre uma caminhada em Belém até o Tribunal de Justiça do Pará com a participação de “estudantes e professores das redes públicas, Ocupa UFPA e UFRA, sindicato de bancários, associações quilombolas, MST, movimento negro, LGBT e o movimento feminista”; e outra sobre a mobilização de “estudantes do IFPA, UEPA, UFPA e Secundaristas de Castanhal para o ATO unificado” com trabalhadores em Castanhal, interior do Pará.

Deixando ainda mais explícita sua natureza ativista, dois dias depois o coletivo reproduziu uma postagem de seu site (ninja.oximity.com) avaliando as atividades do dia 11. Conclui que o movimento “alcançou mais cidades do que imaginamos ou conseguimos dar visibilidade”, referindo-se ao município mineiro de “Capitão Enéas, “que tem aproximadamente 15 mil habitantes. Algo inédito!”, reafirmando mais uma vez, a perspectiva de quem está vivenciando o movimento.


“O que são 10 minutos parados frente a 20 anos de retrocessos ?"


‘Cadeiraço’ no portão principal da Universidade Federal de Viçosa - MG
Fonte: Mídia Ninja (16.11.2016)


A visão de dentro, o caráter ativista e o texto opinativo presentes nos conteúdos da fanpage do Mídia Ninja acentuam-se com o post que tem em seu título a seguinte questão: “O que são 10 minutos parados frente a 20 anos de retrocessos?". Nesta postagem, além de levar a refletir, informa sobre um “cadeiraço” feito por estudantes grevistas “na entrada principal da Universidade Federal de Viçosa contra os cortes na educação, na assistência estudantil e pedindo a suspensão do período letivo da universidade”. Ao contrário do que se vê na grande mídia que costuma criminalizar os protestos que interditam o trânsito, este post justifica o ato, explicando que se trata de uma intervenção artístico-pedagógica de conscientização para chamar a atenção da comunidade para os impactos da PEC 55. O assunto foi abordado durante dois dias, explicando-se que durante o ‘cadeiraço’ foi feita uma “panfletagem de forma pacífica, parando o trânsito em intervalos de 10 em 10 minutos durante uma hora”, a fim de “liberar o tráfego na via”. A conjugação dos termos “intervenção artístico-pedagógica, conscientização, panfletagem pacífica, liberar o tráfego” procura qualificar positivamente a ação, revelando uma preocupação em justificar o bloqueio do trânsito e afastar qualquer possibilidade de criminalização, tentativa comum na grande mídia em coberturas sobre protestos x trânsito. Tal preocupação do coletivo é percebida, ainda, na segunda fase de nosso monitoramento, conforme visto a seguir.


2ª etapa do monitoramento

“De cima do caminhão de som, alguém perguntou: "quem são vocês?", em um uníssono, uma onda sonora respondeu: "O POVO SEM MEDO!"

O segundo período de monitoramento da fanpage do Mídia Ninja analisa as publicações da semana de 22 a 27 de novembro. Como no período anterior, a imagem constitui elemento importante nos conteúdos produzidos, estando presente, especialmente, no formato galeria de fotos. Em relação à linha editorial, observa-se o prosseguimento do discurso favorável às ocupações, destacando-se as novas adesões ao movimento e suas ações em várias cidades do país, seja capital ou interior. Como exemplos, podemos destacar a “solidariedade às Ocupações”, o “repúdio à ação truculenta da PM”, a união de militantes do MST, Secundaristas, Discentes e Docentes da UFMG” em uma caminhada pelo campus Pampulha, a unificação do movimento com outras lutas sociais, como a luta pela moradia na ocupação da UFABC. A fanpage também mostrou que “em Belém, estudantes decidiram por unanimidade pela ocupação total da Escola Estadual Brigadeiro Fontenelle, no bairro da Terra Firme, contra a PEC 55”; e que a UnB reuniu mais de mil pessoas para debater a deflagração de greve estudantil e mobilização no dia 29 contra a PEC.

De uma forma geral, seus textos procuram valorizar a instantaneidade, adotando termos como ‘agora’, neste momento, mas nem por isso deixam de publicar informações sobre fatos já ocorridos em dias anteriores. Reiteradamente, qualificam as medidas atuais como “retrocessos do governo de Michel Temer”. Em meio a essas críticas, informam que a PEC 55 “promove um ataque direto a diversos setores de base do país, entre eles a Educação” e que as ocupações, “símbolo da luta contra a PEC 55”, “pretendem criar um espaço para o debate político, ampliando a força contra o sucateamento do ensino público e contra projetos como o Escola Sem Partido, que na realidade é a escola de um partido só”. Os posts costumam abordar, ainda, a ação da polícia durante os processos de ocupação, seja pacífica ou violenta.


“Quando contrariados, não teve diálogo, partiram pra agressão ”

As postagens também mostram as ações do Movimento Desocupa, que em Curitiba “agrediu manifestantes que estavam em frente à ocupação da UTFPR” (Universidade Tecnológica Federal do Paraná). Em Belém, informaram que, durante a ocupação da Escola Estadual Brigadeiro Fontenelle, “uma diligência da Polícia Militar esteve na escola a título de ‘averiguar o local’, inquirindo os alunos, procurando identificar uma suposta liderança e investigando uma suposta denúncia sobre o uso de drogas ilícitas, numa tentativa clara de deslegitimar e dispersar o movimento. Alunos, professores e pais argumentaram a favor da ocupação e continuaram a resistência”. A polarização com esse movimento é evidenciada em títulos como “Movimento Desocupa é barrado novamente na UFES” e ao destacar certas ações, especialmente as que envolvem violência: “mulheres foram agredidas e martelos foram usados para tentar romper os cadeados”.


Violência dos seguranças contra os alunos da Faculdade de Comunicação da Famecos,
Fonte: Mídia Ninja (10.11.2016)



As denúncias de violência e repressão às ocupações também provocam significativa repercussão e engajamento do público, a exemplo da notícia sobre a violência dos seguranças contra os alunos da Faculdade de Comunicação Social da Famecos, que contabilizou 584 mil visualizações, com 4,6 mil curtidas, 6,3 mil comentários e 7,8 mil compartilhamentos. Apesar de muitos usuários manifestarem-se contra a violência, nesta postagem foram registradas 1,8 mil reações de 'Riso' e 523 'Amei' em oposição às 982 reações de 'Raiva', 330 de 'Tristeza' e 138 de 'Surpresa'.



Outra característica das postagens que marcou a segunda etapa do monitoramento foi a indignação com as medidas do governo federal, como também a preocupação em explicar e justificar as ações do movimento, como no texto referente à ocupação do IFSP-São Roque: “A ocupação parcial não prejudica os estudantes. Nossa prioridade é conscientizar e levantar essas questões [da PEC e da Reforma do Ensino Médio] aqui no campus”. Nesse período, também foi noticiado o cortejo fúnebre  feito por estudantes e artistas da Faculdade de Belas Artes da UFMG, “simulando o enterro da Saúde e Educação, com a aprovação da PEC 55”.

“Estamos de luto e de luta”. Fonte: Mídia Ninja (25.11.2016)


Em função do “Dia Unificado de Protestos e Paralisações”, agendado pelas Centrais Sindicais para 25 de novembro, muitos posts abordaram as manifestações desse dia, mostrando que a luta contra a PEC 55 ganhou reforço das mulheres, que denunciaram “o número de mulheres mortas em 2014 pelo machismo em todos os estados do Brasil” e levou “Estudantes secundaristas, estudantes da UFTM, professores da UFTM, Sindicatos dos professores do Estado e Prefeitura, professores não sindicalizados, profissionais da saúde e população” às “ruas e praças de Uberaba (MG) contra a PEC do fim do mundo e as medidas do governo golpista”.

Reforçando essa vertente e as críticas ao governo Temer, a fanpage anunciou ‘o povo sem medo’: “Neste momento, milhares de pessoas, unificam suas lutas na Av. Paulista, em São Paulo, para pedir o fim dos retrocessos a partir de Michel Temer”; “Trabalhadores, estudantes, sem-tetos, ativistas em geral reuniram-se na luta contra os retrocessos se aprovadas as MP’s e PEC 55”.

Também houve cobertura de ato unificado em Belém, marcando o Dia Internacional da Não Violência Contra a Mulher com “as centrais sindicais e os movimentos feministas”.  Além disso, o texto informa que “teve o já tradicional escracho em frente à TV Liberal, afiliada da Rede Globo e culminou em uma performance de entidades feministas em frente à Delegacia Seccional Urbana de São Brás que lembrou todos os feminicídios no Pará em 2016”.

Ocupação no Campus UFES-Alegre (ES)
Fonte: Mídia Ninja via Ocupa UFES-Alegre (15.11.2016)


Como pudemos ver durante todo o monitoramento, esse caráter ativista é reforçado pelo uso de palavras de ordem como “nenhum direito a menos” e evidenciado em praticamente todas as publicações analisadas. Os textos curtos, quase sempre conjugados com imagens dinâmicas ou estáticas, também são marcados por adjetivos que reafirmam o posicionamento político contrário ao governo e suas medidas econômicas, como as PECs em questão. Nesses textos, observamos, ainda, a preferência pelos termos “manifestação” e “paralisação” em relação a protesto ou greve, como também o uso de hashtags para marcar algumas cidades, como #Belém e #Curitiba. Não encontramos, no material analisado, postagens sobre a PEC em si, explicando do que se trata – o que não exclui a possibilidade de ter sido abordada em outro momento ou mesmo em posts não verificados.

É importante destacar, ainda, que apesar do grupo classificar o seu trabalho como “uma plataforma de jornalismo independente”, não cultiva a prática de ouvir o outro lado. No entanto, ao assumir a sua natureza ativista, mantém sua coerência, uma vez que procura criar “contra-narrativas colocadas pela mídia tradicional e conservadora que objetiva invisibilizar e criminalizar diversas lutas e movimentos atuantes no país” – como é o caso da luta contra a PEC 55. Por isso, durante toda sua cobertura, o coletivo Mídia Ninja vem mostrando as ações de um povo sem medo, cujos “sonhos não cabem na PEC".
OBSERVATÓRIO - Entre o jornalismo e o ativismo: o olhar de quem narra a própria luta OBSERVATÓRIO - Entre o jornalismo e o ativismo: o olhar de quem narra a própria luta Reviewed by Agência #ComunicaçãoOcupada on 04:07 Rating: 5

Nenhum comentário