Extermínio da população negra é tema de debate, em uma iniciativa do Movimento de Ocupação da UFPA

Segundo a Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado sobre assassinato de jovens no Brasil, os homicídios afetam quatro vezes mais a população negra do que a população branca. Por ano, são 23 mil jovens negros entre 15 e 29 anos assassinados, o que representa a morte de 63 pessoas a cada 23 minutos.

Esses dados revelam uma triste realidade: o extermínio da população negra, que foi o tema de uma mesa promovida pelo Movimento de Ocupação da UFPA.


O relatório da CPI, divulgado em junho deste ano, destacou a responsabilidade direta ou indireta do Estado sobre essa situação e o crescimento da violência policial contra esses jovens.

Rômulo Morais é mestre em Direito pela Universidade Federal do Pará. Ele utiliza o conceito de estética da escravidão para compreender os fatores que atingem a população negra. Segundo o pesquisador, a estética da escravidão tem a ver com os sentidos e conceitos que são naturalizados como o lugar do negro na sociedade brasileira. Para o pesquisador, compreender essas relações é fundamental para entender porque a população negra é o principal alvo do extermínio.

“Ou seja, não é só uma questão de uma ideologia racista, mas é um racismo que está naturalizado na sociedade e na estrutura social e isso tem chegado ao extremo com o extermínio físico e cultural da população e principalmente da juventude negra no Brasil”, afirma.

Para o pesquisador é necessário promover espaços e modos de existir que desconstruam essa estética de segregação. “A imagem do negro, a ocupação dos espaços pelo negro, espaços que sempre foram de dominação como as praças públicas, o espaço que não foi feito para o negro, eles devem ser ocupados. Por exemplo, a arte e o movimento hip-hop têm sido fundamentais nesse sentido, nessa resistência a todo esse processo de violência e criminalização.”

Na Terra Firme, um dos bairros mais atingidos pela marginalização, o audiovisual se tornou uma ferramenta para mostrar a realidade social e cultural da população com o trabalho do coletivo Tela Firme.

Em novembro de 2014, a ação de um grupo de extermínio vitimou 11 pessoas em bairros periféricos da cidade e o Tela Firme fez um documentário intitulado “Poderia ter sido você”. Na obra, pessoas atuam retratando as vítimas não apenas dessa chacina como também de outras que aconteceram na cidade.

Francisco Batista é integrante do coletivo e explica como surgiu o projeto do documentário. “As pessoas começaram a nos questionar, o que íamos fazer, se a gente ia fazer algum vídeo. Então a gente resolveu fazer um mini documentário e retratar as vítimas se colocando no lugar de vítima e também para que as pessoas atentem pra isso, que poderia ter sido qualquer um, como está infelizmente acontecendo, poderia ter sido você e alguns foram vítimas dessa violência.”

Invisibilizado pela mídia e pelo poder público, outros atos, como a intolerância religiosa, também levam à morte da população negra.

No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, segundo reportagem da BBC Brasil publicada em janeiro, o Centro de Promoção da Liberdade Religiosa e Direitos Humanos, criado em 2012, registrou 1.014 casos de intolerância religiosa entre julho de 2012 e agosto de 2015, desses casos, cerca de 70% foram contra adeptos de religiões de matriz africana.

Jucilene Carvalho é militante do movimento negro e sacerdotisa de umbanda. Ela atenta para esse outro tipo de extermínio pelo viés religioso e clama por ajuda. “Para nós é muito importante divulgar os casos de morte, os assassinatos dos pais de santo para que a sociedade enxergue, veja e nos ajude a cobrar porque nós nos sentimos sós, o povo de terreiro está se sentindo só, está sendo ameaçado todos os dias e o governo não faz nada.”

Segundo a sacerdotisa, há uma questão social que compreende os locais de culto. “Uma das questões que nós dizemos é justamente que como os terreiros estão na periferia e não tem segurança lá, nós estamos à mercê dos nossos algozes.”

Para Flávia Câmara, mestranda do programa de pós-graduação em psicologia da UFPA que participou da mesa, o debate em torno do extermínio da população negra é um assunto muito sério e de interesse para todos. “Pra gente é fundamental que nesse momento, no qual estamos rediscutindo o modelo de sociedade, o modelo de democracia, que a gente enfrente o racismo, que a gente dê nome a ele, dê nome às pessoas, dê nome a todo esse sistema e que a gente assuma como tarefa de todos.”
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