OBSERVATÓRIO - Diário do Pará e O Liberal têm coberturas contraditórias sobre a ocupação

Guilherme Guerreiro Neto (FACOM/UFPA)
Thaís Siqueira (PPGCOM/UFPA)
Isabelle Fecury (FACOM/UFPA)


Este relatório analisa a cobertura de dois jornais impressos sediados em Belém: Diário do Pará e O Liberal. O período de análise recobre 16 dias: de 7 de novembro (quando começou a ocupação da UFPA) até 22 de novembro. Foi coletado material relacionado a ocupações e greves na Educação, não apenas às da UFPA. A partir da elaboração de um protocolo de análise, os dados quantitativos foram agrupados e tabelados. O material específico sobre a ocupação da UFPA e as greves de docentes, discentes e técnicos da instituição também foi avaliado separadamente. Em ambos os jornais, foram analisadas as colunas mais influentes, que refletem a sua postura editorial – Repórter 70, em O Liberal, e Repórter Diário, no Diário do Pará. A seguir, são apresentadas as análises da cobertura de cada um dos jornais. As principais considerações feitas a partir dos resultados são as seguintes:

- A cobertura do Diário do Pará é episódica, por vezes invisibiliza o movimento, mas não o criminaliza;
- A cobertura de O Liberal é constante, mas a postura editorial é desfavorável ao movimento, criminalizando-o;
- Estudantes e professores são mais ouvidos por O Liberal do que pelo Diário do Pará. Enquanto em O Liberal as duas categorias representam mais de 50% das fontes, no Diário não chegam a 30% das fontes ouvidas.



Diário do Pará

Foram encontradas 15 ocorrências no Diário do Pará relacionadas a ocupações em geral e greves na Educação. Quanto ao formato jornalístico, 9 são matérias e 6 fazem parte de colunas (ver Gráfico 1).

Fonte: Dados da pesquisa


Há matérias sobre ocupações indígenas; críticas de Temer às ocupações estudantis; provas do Enem em dezembro; greve de servidores do IFPA. Nas colunas, os temas são caravana da União Nacional dos Estudantes (UNE) com escolas e universidades ocupadas para Brasília; corte de gratificação para professores de Concórdia em greve; assembleia de professores do Pará contra imposições do governo do estado; rejeição popular, no portal do Senado, à PEC 55; a situação do país conflagrado.

Do total de ocorrências coletadas, 6 tratam propriamente do movimento de ocupação da UFPA e da greve de docentes, técnicos e discentes da Universidade. São 5 matérias e 1 coluna.

Na coluna Repórter Diário, no dia 8 de novembro, aparece nota sobre o início da ocupação, dizendo que foi pacífica, com reação de uma minoria. No mesmo dia, é publicada também matéria sobre a decisão de ocupar da UFPA. As demais matérias são sobre a “ameaça” de greve dos professores; a decisão dos professores pela greve; o atropelamento do estudante Matheus Nascimento durante um protesto; e uma sobre a ocupação da UEPA, que trata também das atividades na UFPA.

Entre as 15 ocorrências totais, quanto ao posicionamento do jornal no material coletado, considerando as valências ‘a favor’, ‘contra’ e ‘neutro’, 7 têm um tom mais favorável, 3 seguem mais contrárias e 5 soam como neutras (ver Gráfico 2).

Fonte: Dados da pesquisa


Especificamente nas ocorrências sobre a ocupação da UFPA, aparecem 4 favoráveis e 2 neutras. Não há, portanto, criminalização do movimento no Diário do Pará.

Em relação às fontes, os estudantes são ouvidos em 3 momentos, os professores, 2 vezes, a posição institucional da UFPA também é contemplada 2 vezes. Há ainda outras fontes e 6 textos sem identificação de fonte (ver Gráfico 3).


Cada matéria ou coluna pode ter mais de uma fonte.

Fonte: Dados da pesquisa


As 3 aparições de estudantes, as 2 de professores e as 2 da Universidade estão no material específico sobre a ocupação da UFPA. Esses textos têm ainda como fontes outros grupos sociais (2).


Os textos que tratam da ocupação da UFPA e da greve de docentes, técnicos e discentes da instituição aparecem basicamente na primeira semana do movimento. São dois publicados dia 8 de novembro, um dia 9, um dia 11 e um dia 12. O único texto mais recente foi publicado dia 18 de novembro e tem mais foco na ocupação da UEPA do que na da UFPA (ver Gráfico 4).

Fonte: Dados da pesquisa


A frequência da cobertura sugere que o Diário do Pará trata da ocupação apenas no momento em que é uma novidade, no irromper do acontecimento. Em seguida, o movimento passa a ter uma quase invisibilidade.


A ocupação e a greve aparecem na capa do Diário do Pará em três momentos: dias 8, 11 e 12 de novembro. As chamadas são as seguintes:

- Estudantes ocupam UFPA (com foto);

- UFPA vai parar: professores vão entrar em greve;

- Manifestação: Motorista fura protesto contra PEC do Teto e fere estudante.



O Liberal


Foram encontradas 17 ocorrências em O Liberal relacionadas a ocupações em geral e greves na Educação. Quanto ao formato jornalístico, 9 são matérias e 8 fazem parte de colunas (ver Gráfico 5).

Fonte: Dados da pesquisa


Há matéria sobre uma passeata contra a PEC 55. Em colunas, há uma nota sobre a rejeição popular às “invasões” de escolas; guerrilha do PT contra reformas, “invasões” incluídas; filme exibido em colégio “invadido”.


Do total de ocorrências coletadas, 13 tratam propriamente do movimento de ocupação da UFPA e da greve de docentes da Universidade. São 8 matérias e 5 colunas.


A primeira matéria sai dia 8, sobre o início da ocupação e as divergências de posição entre os estudantes. Depois, são tratados os próximos rumos da ocupação; aprovação da greve dos servidores; definição da greve dos professores; greve dos professores como reforço da ocupação; início da ocupação na UEPA, tratando também das atividades na UFPA; anúncio da passeata do dia 25 e da marcha para Brasília; início da greve no IFPA, abrangendo também o movimento da UFPA.


Na coluna Repórter 70, que expressa a opinião do jornal, é patente a posição contrária ao movimento. Dia 11, trata de representação de estudantes contrários à ocupação contra o reitor por suposta doação de tíquetes de alimentação aos manifestantes. Dia 14, sobre insatisfeitos com a ocupação, que teria sido decidida por uma “esmagadora minoria”. Dia 18, cita a ocupação como forma de greve. Dia 19, o saldo negativo de conclusões de curso, entre greves, protestos e ocupação. E dia 22, sobre carros da UFPA transportando alimentação para estudantes, “ou seriam militantes?” - questiona o texto.


Entre as 17 ocorrências totais, quanto ao posicionamento do jornal no material coletado, considerando as valências ‘a favor’, ‘contra’ e ‘neutro’, 1 tem um tom mais favorável, 7 seguem mais contrárias e 9 soam como neutras (ver Gráfico 6).

Fonte: Dados da pesquisa


Especificamente nas ocorrências sobre a ocupação da UFPA, aparecem 1 a favor 4 contrárias e 8 neutras. Os quatro textos contrários ao movimento fazem parte da coluna Repórter 70. Esse dado indica um posicionamento institucional de O Liberal desfavorável e mesmo de criminalização do movimento.


Em relação às fontes, os estudantes são ouvidos em 8 momentos, os professores, 6 vezes, a posição institucional da UFPA é contemplada 2 vezes. Há ainda outras fontes e 6 textos sem identificação de fonte (ver Gráfico 7).


Os dados sobre fontes ultrapassam o total de ocorrências coletadas porque cada matéria ou coluna pode ter mais de uma fonte.

Fonte: Dados da pesquisa


Das 8 aparições de estudantes, 7 estão no material específico sobre a ocupação da UFPA. Estão também as 6 vezes em que são ouvidos os professores, as 2 da Universidade e 1 de outros grupos sociais. Outros 4 textos não têm identificação de fonte.


A cobertura da ocupação e da greve na UFPA é contínua. Foram 5 ocorrências na primeira semana do movimento e outras 8 nos dias subsequentes (ver Gráfico 8).

Fonte: Dados da pesquisa


A frequência da cobertura sugere que O Liberal dá importância jornalística à ocupação. Porém, na coluna Repórter 70, a mais lida e influente do jornal, evidencia-se a postura editorial do jornal desfavorável ao movimento.


A ocupação e a greve aparecem na capa de O Liberal em três momentos: dias 8, 9 e 10 de novembro. As chamadas são as seguintes:


- PEC dos Gastos: Estudantes ocupam a Reitoria da UFPA (com foto);

- Ocupação pode se ampliar para toda a UFPA;

- UFPA: Servidores em greve a partir de sexta-feira.



Posturas contraditórias


Esta primeira etapa de análise da cobertura que Diário do Pará e O Liberal fazem da ocupação da UFPA e da greve de docentes, técnicos e discentes da instituição sugere posicionamentos contraditórios dos dois jornais impressos. O Diário fez uma cobertura jornalística e manteve uma postura editorial até favorável à ocupação na primeira semana, mas em seguida passou a ignorar o movimento, invisibilizando-o. Já O Liberal fez uma cobertura jornalística constante e razoavelmente equilibrada da ocupação durante o período de análise, não se restringindo ao irromper do acontecimento. Em contrapartida, não deixa dúvida sobre a sua postura editorial contrária ao movimento, que por vezes o criminaliza, expressa na sua coluna mais influente, Repórter 70. Chama estudantes de militantes, referindo-se à ocupação como ato de uma minoria e manifesta discordância a supostos apoios institucionais da UFPA aos ocupantes. Além de ter uma frequência maior de cobertura, O Liberal também ouviu mais estudantes e professores como fontes, proporcionalmente, em comparação com o Diário. As duas categorias representam mais de 50% das fontes totais, enquanto que no Diário não chegam a 30%.
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