OBSERVATÓRIO - TV's do estado silenciam sobre ocupação

Passada a primeira semana, movimento sai da pauta 

Lídia KarolinaRodarte (PPGCOM/UFPA)
Rosaly de Seixas Brito (FACOM/PPGCOM/UFPA)

As duas emissoras comerciais com maior audiência no Estado – a TV Liberal, afiliada da Rede Globo no Pará, e a TV Record Belém, que integra a Rede Record nacional - ignoraram a ocupação da UFPA entre os dias 15 e 24/11. Já a TV Cultura, emissora pública do Estado, não chegou a noticiar o movimento nem mesmo no momento de sua deflagração. O silêncio produz muito sentido. Quando se trata da cobertura midiática, é sinônimo de ocultamento. O que não está na mídia é como se não existisse para a sociedade.

O silenciamento da mídia televisiva contraria critérios básicos de noticiabilidade, se considerado o evidente impacto social da suspensão das atividades normais da maior instituição de ensino superior da Amazônia para dar lugar às atividades da ocupação desde o último dia 07/11. Ao analisar o material noticioso da TV Liberal e da TV Record Belém entre os dias 07 e 23/11, constata-se que o movimento só foi pautado quando de sua deflagração e nos dias imediatamente subsequentes. Voltou à pauta no dia 11/11, quando houve uma paralisação nacional contra a PEC 55, e depois caiu no esquecimento. No caso da TV Cultura, o silêncio é ainda mais flagrante, porque a primeira matéria sobre o assunto só foi veiculada pela emissora no dia 17/11, dez dias após o início da ocupação da UFPA.

Os jornais da TV Record noticiaram o movimento de ocupação apenas na primeira semana, de 8 a 14 de novembro, geralmente com matérias feitas por repórteres no campus Guamá. Os outros campi distribuídos pelo Estado, mesmo estando ocupados, ficaram de fora da cobertura. Em uma única emissão, no dia 8 de novembro, dia seguinte à deflagração do movimento, o repórter entrou ao vivo no primeiro jornal da manhã, falando da frente ao prédio da reitoria da UFPA. As matérias veiculadas nos primeiros dois dias da ocupação aparentemente não se mostram contrárias ao movimento. Chama atenção, no entanto, a prioridade e o maior tempo destinado à fala do representante do grupo UFPA Livre, que é contra a ocupação, em matéria veiculada justamente no dia da deflagração da greve dos docentes (14/11).

Nos três jornais diários da TV Liberal – Bom dia Pará, Jornal Liberal 1ª edição e o Jornal Liberal 2ª edição – a cobertura do movimento de ocupação da UFPA ocorreu somente na primeira semana do movimento. Em geral as notícias se repetem nos três jornais, principalmente no da primeira e segunda edição, com alguns acréscimos e novas imagens e detalhamentos. A partir daí, as poucas matérias veiculadas não versam especificamente sobre a ocupação, mas sobre os movimentos e manifestações em geral contrárias à PEC. Percebe-se o uso recorrente de notas cobertas – em que o apresentador fala do estúdio com imagens ao fundo, sem entrevistas. Foram detectadas somente duas exceções a essa forma de cobertura. A primeira foi nas edições de 11 de novembro, dia nacional de paralisação contra a PEC, em que os manifestantes fecharam a Almirante Barroso, avenida de entrada de Belém. A segunda ocorreu no dia 14 de novembro, quando os docentes da UFPA deflagraram a greve. Neste último caso, a matéria apresentou dois pontos de vista: o do estudante que se sentiu prejudicado e da estudante que acredita que é pela greve que se conseguem conquistas importantes para a educação superior. Também foi ouvida a representante do movimento grevista.

Já a TV Cultura, única televisão pública do Estado, desconheceu a existência do movimento de ocupação da UFPA por dez dias a contar de sua deflagração. Uma única matéria pautada pela TV foi veiculada no dia 17/11 sobre os impactos da PEC 55 na educação universitária. A outra matéria veiculada sobre a ocupação não foi pautada pela TV, e sim no quadro “Sintonize UFPA”, veiculado no Jornal Cultura às sextas-feiras, fruto de parceria entre a Faculdade de Comunicação da UFPA e a emissora. As matérias do quadro são produzidas pelo “Academia Amazônia”, da Facom.

O silêncio das emissoras sobre a ocupação ou mesmo o fato de privilegiarem notas cobertas, em detrimento de maior empenho em reportar o movimento, mais que uma evidente negligência na sua função de informar à sociedade, denuncia uma postura editorial de ocultamento do movimento e da posição assumida por seus principais atores, na tentativa de minimizar sua importância social e seu vigor no combate às medidas arbitrárias e contrárias ao interesse nacional do governo de Michel Temer.
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